A história de como eu (des)aprendi a cumprimentar
As suas lembranças de aulas mais memoráveis podem não ter nada a ver com fórmulas e citações.
Vai saber como, no meio da releitura de um livro eu acabei transportando a minha cabeça à lembrança de uma das minhas ‘aulas’ mais memoráveis do Ensino Fundamental, no CEMP: um momento em que nós aprendemos a cumprimentar os colegas. Como apertar mãos, dar dois beijos e abraçar.Eu nem me lembro o motivo disso ter começado, mas recordo o nervosismo porque as instruções mexiam com as minhas noções ruins de ‘esquerda’ e ‘direita’.
Eu sou uma pessoa de poucos abraços, poucos beijos, alguns cumprimentos e frequentes ‘erros’, especialmente um ano após ficar revezando entre Rio e São Paulo. Mesmo que eu já tenha usado a frase da Bell Hooks sobre mulheres negras terem pouco ou nenhum afeto na vida, neste caso eu realmente admito que não curto tanto contato físico. É a minha natureza. Mas, existe uma exceção: eu amo abraçar as pessoas com as quais me importo.
De volta à sala de aula e o campo da afetividade, eu fico me perguntando se outras crianças experimentaram o mesmo que eu e a minha turma em outros momentos. Aos 21 anos de idade, eu sei que só passei por momentos parecidos com ‘a aula de cumprimentos’ quando passei a frequentar a disciplina Intelectuais Negras, na UFRJ.
Olhar nos olhos das outras pessoas, tocá-las, ouvi-las e outras coisas mais podem ser um caminho para revelar a nossa humanidade (que nunca deveria ter sido esquecida). A pequena criança ou o ‘pequeno adulto’ da sala de aula pode encontrar ali um afeto raro, assim como eu o fiz. Principalmente na universidade, um espaço que só exige rendimento e dedicação de nós, mas nunca quer saber do nosso estado emocional.
Isso aqui é um papo pra todo mundo, afinal eu mesma não sou professora, mas todo mundo se envolve em processos educativos e afetivos, mesmo sem ler os especialistas do assunto.
Se você acha que combinar educação com afetividade é besteira, vou deixar um ‘dever de casa’ bem bobo: Sabe a cultura pop? Então, liste aí os vilões dos filmes de super herois que você conhece.
Agora pense sobre as características e histórias deles. Tente chegar às motivações de tamanha revolta. Spoiler da resposta: você vai encontrar algumas razões bem subjetivas, como a falta de acolhimento ou um trauma.
As igrejas adoram usar, no meio das suas pregações, perguntas como “Quem foi a última pessoa que você abraçou?” ou “Você já disse que ama ‘fulan@’ hoje?”. Chega a ser constrangedor, às vezes. Especialmente pra quem é tímido e/ou tem problemas familiares. Então, absorva essas questões pra você e, na próxima vez em que você estiver lidando com crianças e adolescentes — ok, e até adultos, por mais ‘durões’ que pareçam — , seja afetuosa(o) e não deixe de elogiar o que vê de positivo. Principalmente nas crianças negras, pobres, LGBT+ (sim, ‘por incrível que pareça’ toda pessoa LGBT+ já foi criança um dia), aquelas que demonstram se sentir deslocadas.
Dê abraços, faça cafuné, olhe nos olhos e ensine-as a reproduzir o gesto entre si. Acredite, a criança vai lembrar de você toda vez que se perguntar se um cumprimento começa com o lado esquerdo ou direito.
E aí, o que as suas aulas e professores mais memoráveis te ensinaram?
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